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ENADE: Professor Leonardo Campos versa sobre Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças

Olá estudante, como estão os estudos?


Arte: 071 News / Foto: Arquivo pessoal

Professor Leonardo: este é mais um tópico de atualidades do ENADE que relaciona dois conceitos complementares para criação de uma palavra-chave para reflexão. Pode explicar para os nossos estudantes cada um deles, depois refletir sobre a associação?

LC: Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças é basicamente o conjunto de políticas, planos e programas de saúde pública que visam, por meio de ações de cunho individual e coletivo, evitar que as pessoas se exponham diante de situações que possam causar doenças. De forma abrangente, esta palavra-chave reforça que vai além do fato de prevenir doenças, mas prover qualidade de vida e bem-estar para vocês. Enquanto a promoção da saúde tem por objetivo, educar as pessoas para que façam escolhas saudáveis em suas vidas, a prevenção de doenças visa concentrar esforços para a redução do desenvolvimento de doenças. E, de volta ao que falei sobre qualidade de vida e bem-estar, temos que levar em consideração o que está proposto pela OMS: saúde e bem-estar físico, mental e social é um estado de equilíbrio entre o organismo e seu ambiente, mantendo os aspectos estruturais e funcionais do corpo dentro da normalidade. É mais que, digamos, a mera ausência de doenças. Os seus principais objetivos são a promoção de estratégias que permitem a diminuição da vulnerabilidade e os riscos à saúde provocados por modo de vida, questões habitacionais, condições de trabalho e acesso aos bens e serviços essenciais.

Então, temos mais uma vez declarações, leis e demais documentos oficiais para nortear as ações no âmbito da Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças, tal como os encontros anteriores?

LC: Para este evento, destaquei a Carta de Ottawa, elaborada na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em 1986, documento que traçou objetivos para a saúde de todos, algo importante para reflexão sobre políticas públicas em nível global. Em seu escopo, há cinco campos de ação básicos, descritos da seguinte maneira: elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes saudáveis, capacitação dos membros de comunidades, desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas para lidar com a saúde e movimentação de serviços de saúde. Assim, tais iniciativas abriram espaço para discussões sobre ações de cunho individual e coletivo, tendo em vista intervir para melhor qualidade de vida das pessoas. Há as ações individuais, onde cada um deve assumir a responsabilidade em manter os hábitos e práticas que preservam a sua própria saúde física e mental. Cuidar da nutrição, fazer atividades físicas, etc. As empresas, em suas estruturas, precisam incentivar os trabalhadores no processo de formação contínua, estimular bom ambiente de trabalho, melhorar a ergonomia de suas instalações, criar campanhas de combate ao stress e até mesmo incentivar para a vacinação, cuidado com diabetes, orientação nutricional, dentre outros. O governo também precisa entrar nesta balança e criar, por meio de iniciativas municipais, estaduais e federais, ações estratégias devidamente executadas, tendo em vista a melhoria das condições de saúde da população.

Quais são os princípios básicos da Promoção da Saúde?

LC: No âmbito da Promoção da Saúde, a OMS dispõe de atividades baseadas nos seguintes princípios básicos: concepção holística, intersetorialidade, empoderamento, sustentabilidade, ações multi-estratégicas e equidade. Na concepção holística, temos a combinação de conhecimentos e práticas de saúde que procuram abordar o ser humano em dimensões que visem a estrutura sistêmica e transdisciplinar da área em questão. Na intersetorialidade, temos a articulação coletiva de setores com profissionais que participam de um mesmo espaço de trabalho. O empoderamento vem da noção que a população precisa ter sobre o domínio de suas próprias vidas, tornando-os capacitados a tomar decisões, promover participação social e monitoramento de suas condições de saúde. No que tange aos meandros da sustentabilidade, se preconiza que é preciso avaliar riscos para gerações futuras e incentivar descarte correto de resíduos, em especial, os conteúdos tóxicos, além de refletir sobre materiais biodegradáveis, redução do consumo de papel e promoção de arquitetura ecológica. As ações multi-estratégicas destacam o envolvimento de diferentes disciplinas e dizem respeito ao processo de combinação de métodos e abordagens diversas, incluindo desenvolvimento de políticas públicas e de comunicação para promover ações de saúde coletiva. Por fim, no caso da equidade, temos a necessidade de reconhecimento das diferenciações sociais e ampliação do acesso das populações ao SUS e programas de saúde.


Para refletir sobre Prevenção de Doenças, você trouxe questões primárias e secundárias. Expõe detalhadamente para os nossos estudantes o direcionamento das duas vertentes?

LC: A prevenção de doenças trabalha com o seguinte: as escolhas que minimizam ao máximo o risco do desenvolvimento de doenças. Redução do risco de morte prematura, gastos com procedimentos que poderiam ser evitados, remédios, médicos, etc. É uma estratégia para evitar o estabelecimento do afastamento do trabalho, numa dinâmica que tem como propósito, educar e conscientizar os cidadãos com difusão de informações que incitem atitudes e comportamentos saudáveis. Dentro deste amplo contexto, podemos definir a prevenção de doenças como o conjunto de atitudes tomadas por meio da antecipação, tendo em vista evitar doenças e acidentes. Falar de prevenção é pensar na mudança de atitudes da população, em linhas gerais, o clichê necessário: pequenas ações, grandes diferenças. O que é ação primária neste processo: suplementar alimentação, informação sobre os riscos de não se vacinar, cuidar de crianças, adultos e idosos, educar sobre higiene bucal e oferecer serviços de saúde, além da inclusão de programas de prevenção de doenças na atenção primária. No caso das ações secundárias, temos o rastreamento de doenças de forma precoce, promoção de saúde materna e infantil, fornecimento de agentes profiláticos para controlar fatores de risco. A profilaxia, para quem não sabe, é um termo que denomina as medidas utilizadas na prevenção ou atenuação de doenças.

Durante a sua exposição, ao versar sobre repertório cultural, apresentou documentários sobre os tópicos delineados em Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças. O que cada uma destas narrativas oferece de reflexão para os nossos estudantes?

LC: O repertório de filmes sobre o assunto é extenso e como já mencionado em encontros anteriores, as indicações realizadas por aqui visam ampliar os conhecimentos gerais dos estudantes e permitir que, por meio de objetos concretos, estas pessoas possam refletir sobre os tantos assuntos, enlaçando mais as teorias com o que é discutido nestas produções. Se Não Fosse o SUS é um documentário de Guilherme Castro, também conhecido por ter dirigido a websérie Travessia COVID-19 e SUS: Em Defesa da Vida. Produzido junto ao Conselho Nacional de Saúde, o filme apresenta panoramicamente o controle social e a saúde publica na dinâmica do enfrentamento da pandemia em 2020, com registros analíticos da crise sanitária que se estabeleceu no Brasil. Por meio de cenas registradas nas Unidades Básicas de Saúde, tendo testemunhos de trabalhadores, usuários e integrantes dos diversos conselhos de saúde, o documentário coloca em análise o tenebroso desdobramento do negacionismo e a falta de ação do governo em momentos críticos no campo da saúde brasileira. Expõe o quanto o SUS assegura a manutenção e o aperfeiçoamento das políticas públicas de nosso país, ao relatar também, por meio de um panorama histórico, os mais de 30 anos de prestação de serviços considerados essenciais para a nossa sociedade. Nascido na Constituição de 1988, o SUS surgiu com o objetivo de garantir o acesso universal e gratuito à saúde para toda a população. Todos nós temos as nossas críticas e reivindicações, mas sem o SUS as coisas seriam ainda muito piores. Ao atender 80% da população em seus programas, o SUS consome 45% do total de gastos com a saúde do país e em suas parcerias com a OPAS (Organização Pan-americana de Saúde e a OMS, tem como tarefas o controle da dengue, a limpeza diante da contaminação de alimentos, a avaliação de produtos da área dos cosméticos, a água consumida por nós, dentre outras iniciativas, tais como fiscalização de escolas, hospitais, controle de epidemias e ações de promoção de saúde e prevenção de doenças. Além deste documentário, indiquei também Sicko: SOS Saúde, de Michael Moore, para desmitificar a visão deturpada que muitos brasileiros com complexo de vira-lata tem sobre o sistema de saúde estadunidense, supostamente o “lugar onde tudo acontece”.

Educação é o caminho. Parece bastante com o encontro que tivemos sobre o exercício pleno da cidadania.

LC: Correto, pois o cidadão que busca compreender os seus direitos e reconhece os seus deveres sabe que assim, está diante do pleno exercício da cidadania. Precisamos ter, cada vez mais, indivíduos devidamente educados para assim, se tornarem capacitados para exercer o controle ativo sobre sua saúde. A mídia e as instituições entram, aqui, para a difusão de informações, algo muito importante, principalmente em nossa era de fluxo intenso de conteúdos na internet, nas redes sociais e nos aplicativos. É preciso ampliar a compreensão dos indivíduos e instrumentalizar a população para a busca de melhoria na saúde individual e do coletivo em que vivem.

Para finalizarmos, você trouxe um ponto muito interessante sobre saúde mental e utilizou um infográfico e algumas charges, pois destacou que não é a sua área de atuação, então precisava trazer suportes de linguagens para refletir sobre o assunto. O que, de fato, você pretendia despertar nos estudantes com estes conteúdos?

LC: Por ser um assunto mais delicado, considero o ideal trazer um vídeo, ou outros elementos do campo das linguagens, como infográficos e charges, pois com estes materiais podemos fazer interpretações e não correr o risco de passar algum tipo de informação inadequada. As charges sobre saúde mental e Síndrome de Burnout selecionadas para este encontro foram muito importantes para um debate que precisamos fazer com frequência e que faz parte da promoção da saúde: a romantização das altas cargas de trabalho, pois é muito comum ouvir pessoas que acreditam que o excesso leva ao sucesso e que os grandes heróis conseguem segurar o tranco sem grandes dificuldades. Não é por ai. Óbvio que precisamos reagir, mas também não devemos cair nas armadilhas do capitalismo corporativo, viver com intensidade uma corrida pelo dinheiro que garante o consumo desenfreado, mas danifica a nossa sanidade, sabe? Com o advento da pandemia, estes debates se intensificaram. Jornadas abusivas de trabalho, falta de descanso, exposição de risco e outros tópicos temáticos dentro deste assunto foram abordados e, como já esperado, foram os momentos que mais renderam a participação dos estudantes, todos com suas histórias de dor e agonia, com os seus relatos de experiência que demonstram o quão estruturada se encontra os problemas envolvendo a saúde mental do brasileiro. Não podemos debater isso apenas no Janeiro Branco, sabe? Tem que ser pauta para o cotidiano.

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