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Foto do escritorLeonardo Campos

Múltipla: Madonna Vai ao Cinema

Explorando a fronteira entre música e cinema em seus videoclipes

Madonna Múltipla
Crédito: Reprodução

Enquanto caminha rumo ao clube noturno em Hung Up, Madonna apresenta ao espectador de seu videoclipe uma construção narrativa com diversas referências ao clássico moderno Os Embalos de Sábado a Noite, musical famoso com John Travolta. Na mesma época, em Sorry, a cantora não apenas se caracterizou como Olivia Newton-John em Xanadu, mas construiu uma atmosfera dançante semelhante ao filme que também tinha Gene Kelly no elenco. Na turnê Rebel Heart, durante o belíssimo interlúdio com a faixa Ilumminati, a artista flertou com cenas do novo Mad Max- Estrada da Fúria. Há também um clima de O Grande Gatsby ao longo do show, sofisticação que na turnê anterior, MDNA, teve o cinema representado pelos filmes de ação de Russ Meyer, febre dos anos 1960, conhecidos por seus tiroteios e mulheres sensuais, bem como Varla, do cult Faster, Pussycat!  Kill! Kill!, personageminterpretada por Madonna na faixa Revolver, logo após o espetacular ato de contrição da abertura. No videoclipe da canção The Power of The Good-Bye, ela traz a personagem de Joan Crawford no clássico Acordes do Coração, especificamente na cena da caminhada da praia. Aqui temos a limitação de espaço para apontar quantas vezes Madonna referenciou o cinema em seus videoclipes e turnês. Fica apenas uma abordagem panorâmica de uma artista que ainda flertou com o Noir em Bad Girl, além de ter sido trilha sonora para diversos filmes.


Desde o preâmbulo de sua longeva carreira, Madonna tentou ser artista de cinema. Achou que a dança seria o trampolim, depois a música. Conseguiu fazer uma série de filmes, peças teatrais, escreveu livros infantis embasados nos ensinamentos da Cabala, mas foi no terreno do videoclipe que artista encontrou maior magnetismo no campo das artes visuais. Seus shows sempre foram lotados e desejados. As performances mesclam canções, encenações teatrais e mensagens de cunho político e social, mas repito, foi através do videoclipe que Madonna se tornou a personalidade midiática forte que é até hoje, mais de três décadas após o início de tudo. A relação com o videoclipe foi uma via de mão-dupla. Ela se beneficiou deste meio, assim como a linguagem do videoclipe ganhou novas configurações com as produções de Madonna, em especial, nos anos 1980 e nos idos de 1990. Indo além das imagens justapostas, com a banda ou os cantores a dançar e a cantar, Madonna levou a sua ânsia por ser uma atriz de cinema para os videoclipes, confeccionando obras polissêmicas, nos moldes das narrativasfílmicas. Sabemos que não foi a única, mas talvez tenha sido a melhor. E, através desta convicção, readaptei o livro Madonna Múltipla – Cinefilia e Videoclipe, de 2015, nesta breve jornada que contempla mais um aniversário da artista conhecida por ser a Rainha do Pop, além de nos fazer celebrar a multiplicidade de mídias que envolve o assunto: cinema, pintura, literatura, fotografia, música, etc.


Marilyn por Madonna: Uma Análise de Material Girl


Material Girl é uma das canções que compõem o álbum Like a Virgin, lançado por Madonna em 1984. Composta por Peter Brown e Robert Evans, a letra da canção surgiu como uma continuação da ideia de força renovadora do amor e autoconfiança pregada pela artista no single Like a Virgin. Dialogando com o espírito yuppie dos anos 1980, na opinião da crítica especializada, a música foi um toque de trombeta para o jovem empreendedor e ambicioso. Como Madonna deixou claro em várias ocasiões, a canção e o videoclipe foram pensados como uma ironia, mas a mídia, às vezes, desatenta, agarrava-se a um refrão e interpretava tudo errado. Dirigida por Mary Lambert, Madonna instaura a paródia, reinterpretando Marilyn Monroe no filme Os Homens preferem as Loiras, clássico musical dirigido por Howard Hawks. De composição simples, Material Girl é uma canção que, assim como boa parte dos sucessos de Madonna, ganhou força com os seus videoclipes polissêmicos. Apostando em crédito, dinheiro e jogos de interesses, a canção investe numa visão de mundo materialista, afinal, como afirmam os primeiros trechos, alguns garotos podem até beijá-la, contudo, sem o devido crédito, ela irá embora, porque, como reitera o refrão, nós somos pessoas que vivemos em um mundo materialista.


Além da letra da canção, a direção de arte e o figurino de “Diamond are a Girl’s Best Friends são os principais aspectos observados no processo de metalinguagem de Madonna para a produção do videoclipe Material Girl. O cenário rosa surge como uma metáfora plástica, estampando a ideia de um discurso feminino estereotipado, atrelando a cor rosa ao personagem de Monroe. Interessado em expor o modo expressivo da cor, combinando e misturando efeitos narrativos do número musical, a direção de arte de Robert Taylor no filme é valorizada pelos movimentos de câmera e enquadramentos de Hawks, organizados pela montagem de Hugh S. Fowler. Diferentemente do número musical do filme, que apresenta Marilyn Monroe absoluta e reforçando a importância do materialismo e do dinheiro presente na vida de uma garota, o videoclipe de Madonna instaura a paródia ao repensar as estratégias enunciativas de Monroe. Em Material Girl, a letra da canção é uma espécie de atualização de “Diamond are a Girl’s Best Friends para os anos 1980. A importância dada ao crédito, às joias, ao luxo e ao bem-estar estão lá, mas no videoclipe, espaço em que Madonna procurou escrever um texto próprio, ela ironiza estas relações colocadas pela letra da canção. Apesar de saber que estamos em um mundo materialista, pela mensagem do videoclipe, o amor pode vencer os obstáculos capitalistas e ela termina o “conto de fadas” com o rapaz pobre.


O videoclipe começa enquadrado em primeiro plano, com dois homens, provavelmente produtores de um filme, conversando sobre a estrela que protagoniza a história: enquanto eles conversam, trechos de Material Girl aparecem em um telão. A conversa gira em torno do poder daquela mulher em ser uma estrela, da forma espetacular como ela age e surge diante das câmeras. Antes do diálogo interrompido por um dos produtores, que parece enfeitiçado pela beleza e encanto da artista no telão, escutamos o som de um rolo de filme sendo executado, numa espécie de alusão direta ao cinema: a metalinguagem já começa por ai, sonora e visual, pois há um projetor atrás dos produtores, mandando as imagens de Madonna para uma tela. A paródia é reforçada porque, diferente do filme, o videoclipe sai em vantagem narrativa. Enquanto no filme temos apenas Monroe e os demais artistas do palco coreografando, cantando e atuando para a câmera, Material Girl aposta em tramas paralelas: há a Madonna emulando Marilyn Monroe e pregando o estilo materialista, bem como a Madonna dos bastidores, que brinca com os presentes e parece apostar mais no amor, haja vista que, em uma cena bastante icônica, um colar de diamantes pode ser visto em cima de um balde cheio de pipoca, numa alusãodescartável do materialismo.


Em Material Girl, Madonna comunica uma série de questões: o seu interesse em ser atriz de cinema, tamanha a relação com o mito Marilyn Monroe na cultura da mídia, assim como a perspectiva multicultural e a construção de videoclipes que contavam pequenas histórias. Apesar de não ser uma estratégia nova neste campo de produção, naquela época, atraia as atenções do público e da mídia, reforçando a sua imagem polêmica diante de questões como identidade, feminismo, sexualidade, dentre outras. O cinema, como embasamento de seus videoclipes, estava apenas no começo. Express Yourself, por exemplo, é uma das canções que compõem o álbum Like a Prayer, lançado por Madonna em 1989, numa fase mais madura e interessante. Composta em parceria com Stephen Bray, a letra da canção, imperativa, foca na defesa de gênero proposta de maneira mais razoável por Madonna em produções anteriores. Com um perfil que foge exclusivamente do materialismo, a letra encoraja o público feminino a buscar respeito e se expressar. A canção, considerada uma convocação feminina para a guerra, com instrumentos de sopro e uma voz cheia de emoção, versa sobre o poder de se expressar, sobre dar o melhor de si, superar os obstáculos que a vida nos impõe e atingir objetivos. Tema do próximo tópico.


Madonna e a Reconfiguração de Fritz Lang: Uma Análise de Express Yourself


Na abertura do videoclipe, Madonna pergunta para os ouvintes se eles acreditam no amor. O seu eu-lírico alega que há algo que ela precisa contar para quem está escutando. Sem apelos materiais, diz que as mulheres não precisam de anéis de diamante, nem de carros elegantes, mas apenas uma mão grande e forte que as ajudem a se erguer, fazendo-as sentir-se rainhas. A canção ainda reforça que, se não for para ser exclusiva, a mulher será mais forte se ficar sozinha, afinal, lençóis de cetim não são suficientes se a pessoa não estiver na cama sendo amada. No geral, a mensagem é um conselho para as pessoas se expressarem da melhor maneira possível, dizerem o que sentem e o que desejam. Seguindo o estilo da artista, a canção não foi suficiente. Um videoclipe precisou ser providenciado e quem comandou foi o eficiente David Fincher, diretor atualmente conhecido por clássicos modernos, tais como Seven – Os Sete Pecados Capitais, Clube da Luta, Alien 3, dentre outros, mas que começou a carreira dirigindo alguns videoclipes da cantora, um ótimo estágio, por sinal. Como base para o videoclipe, a produção escolheu o expressionista Metrópolis, comandado por de Fritz Lang, conhecido por traçar críticas sobre a mecanização da vida industrial e os sentimentos humanos perdidos diante deste processo. O Queen já havia se baseado neste filme para a produção do videoclipe Radio Gaga, mas Madonna buscava uma abordagem que desconstruísse o filme e revertesse as estratégias de Lang.  


Logo em sua abertura, um plano geral contempla a cenografia com traços característicos da visualidade de Metrópolis, isto é, uma cidade aérea, com aviões futuristas a trafegar pelosarredores dos arranha-céus. Após chamar os ouvintes para escutar o seu hino feminista sobre o amor, a câmera se movimenta pela área industrial, no subsolo da cidade, como no filme, com uma montagem alternando trabalhos braçais e a força das máquinas. É importante perceber que, apesar de alguns cortes secos, há transições nebulosas, típicas do expressionismo, mudando os espaços através de névoas e forte presença de luz azul, banhando as cenas de um caráter onírico. Um operário contemplado por um ângulo baixo, responsável por exaltar o seu físico escultural e a sua força, valorizados pelo posicionamento da câmera, é o contraponto da personagem interpretada por Madonna, insatisfeita do alto de sua torre. Alguém observa os trabalhadores de cima e a massa de baixo parece escutar um chamado lá de cima. Entre as cenas, temos uma simbólica Madonna acorrentada numa cama, bem como um personagem masculino, que pode ser considerado o líder ou até mesmo o dono da fábrica, contemplando artistas através de uma vitrine. Dentre tantas interpretações possíveis, Madonna acorrentada pode ser considerada uma crítica da artista ao cinema engendrado pelo olhar masculino durante muito tempo. Ao menos foi o que li em A Cultura da Mídia, de Douglas Kellner.


Após essas cenas, Madonna é apresentada na cama, envolta em lençóis de cetim, insinuando uma relação sexual com o operário, enquanto uma trama paralela acontece demarcada por atritos entre os trabalhadores da fábrica. O videoclipe encerra com a seguinte citação: “Sem o coração, não pode haver entendimento entre mão e mente”. Apesar de ser uma expressão extraída do filme de Fritz Lang, no videoclipe ela é revertida, pois, diferentemente dos conflitos resolvidos no final da história de Metrópolis, com trabalhadores e capitalistas, pais e filhos, todos em acordo, o videoclipe de Madonna sugere que os conflitos de classe e sexo são a sina da humanidade, principalmente se pensarmos nas celeumas atuais de nosso mundo capitalista e sexista.  Orçado em U$5 milhões de dólares, Express Yourself foi filmado em abril de 1989, nos estúdios Culver, na Califórnia. Estreou na MTV em 17 de maio de 1989 e se tornou um dos maiores sucessos de Madonna, marcando uma estratégia mais poderosa no campo do videoclipe. Nessa época, a cantora firmava o seu lugar como artista feminina rentável e com público feminino cativo, algo que seria ampliado em Vogue, sucesso responsável por arregimentar a sua relação com público homossexual, tema do nosso próximo tópico.


Strike a Pose! Uma Análise de Vogue


Vogue é uma das canções que compõem a trilha sonora do filme Dick Tracy, lançada por Madonna em 1990. Composta em parceria com Shep Pettibone, a letra da canção sugere a pista de dança como um local terapêutico, em que cada pessoa deve ser ela mesma e sentir-se radiante. Com um perfil inclusivo, a letra encoraja o público a entrar na pista de dança e deixar correr as emoções.  Considerada uma canção que se comporta como um hino urbano sofisticado, celebrando a arte do Voguing, logo em sua abertura, Madonna solicita que os ouvintes façam uma pose. Mais adiante, observaremos que não se trata de uma pose qualquer, mas uma posição de supermodelo. Ela diz que, olhando ao redor, percebemos que há muita desilusão e dor, e, diante disso, estamos sempre arrumando uma maneira de escapar dessa situação. Sendo assim, quando tudo fracassar e a pessoa quiser ser alguém melhor do que é, a pista de dança será o um bom lugar. Logo no refrão, a artista convoca todos para a pista e sugere que dancem para valer, divirtam-se e sigam o ritmo da música. Mais adiante, aconselha que a pessoa esteja atenta para a sua imaginação, pois precisa usá-la a seu favor, arranjando forças para buscar inspiração para os mais belos sonhos. A expressão give a face (só no carão), presente na canção, sugere que a pele da pessoa está radiante e brilhante. É puro hedonismo!


Seguindo a linha inclusiva, a canção diz que não importa se vocêé negro ou branco, homem ou mulher, o que interessa é que a música está tocando e que a pessoa deve se sentir uma estrela. Ao valorizar o poder da música para levantar o astral das pessoas, o seu eu-lírico informa que é através desta modalidade artística que a beleza pode ser encontrada, e que, de certa maneira, há uma espécie de magia na pista de dança, que precisa ser levada para a vida, mas, para isso, é preciso que você dance faça as poses sugeridas. No meio da canção, um rapé inserido, composto por Madonna, apresentando o nome de dezesseis estrelas de cinema hollywoodianas: Greta Garbo, Marilyn Monroe, Marlene Dietrich, Joe Di Maggio, Marlon Brando, Jimmy Dean, Grace Kelly, Jean Harlow, Gene Kelly, Fred Astaire, Ginger Rogers, Rita Hayworth, Lauren Bacall, Katherine Hepburn, Lana Turner e Bette Davis. Além da óbvia necessidade de criar rima na letra da canção, Madonna evoca atores e atrizes das décadas de 1920 a 1950, e, como ela explica, são mulheres de atitude e homens que estavam na “onda” dos seus respectivos momentos, influências necessárias para que a pessoa ganhe força e sinta-se inserida na pista de dança, celebrando a vida. Ao finalizar, aconselha que a pessoa se deixe levar pela música. Para o videoclipe, o diretor David Fincher fechou mais uma parceria bem-sucedida com Madonna.


Filmado em preto-e-branco, Vogue apresenta mãos que se movimentam numa coreografia expressiva, numa busca por formar uma moldura em torno do rosto. A câmera se movimenta e a montagem lança cortes-secos e dinâmicos que acompanham os gestos dos dançarinos, enquanto estes adotam poses sofisticadas, como numa passarela, atitudes típicas do mundo underground gay. Altamente estilizada, a dança se caracteriza por posições excêntricas e movimentos corporais intensos. Apesar de já existir e ter sido popularizada nos anos 1980, ganhou maior dimensão com o videoclipe e a canção de Madonna. Um dos conceitos desta dança é a transição das poses, que deve ser realizada da maneira mais elegantemente possível. O elenco do videoclipe foi reunido depois de um processo gigantesco de seleção, algo que envolveu 500 dançarinos em Los Angeles. O coreógrafo Vincent Paterson pesquisou e procurou melhorar os primeiros passos esboçados por Madonna, assumidamente inspirados em Willie Ninja, dançarino de voguing e estrela do documentário Paris in Burning, de 1990. Para complementar a relação metalinguística, Madonna ainda acrescentou Fred Astaire, e, logo depois, ginástica olímpica e dança asiática. A iluminação é um dos maiores destaques do videoclipe, assim como a direção de arte, com adereços que investem no poder feminino, dentre eles, o quadroNana Herrera, assinado pela artista Tamara de Lempicka, famosa nos anos 1920, presente em outros trabalhos da cantora ao longo de sua carreira bastante caprichada na manipulação da visualidade.


A metalinguagem foi bastante lapidada nesta produção, que bebeu no cinema alemão e francês dos anos 1930 e nas fotografias de Horst P. Horst, profissional que fez fama ao fotografar Bette Davis em várias ocasiões, além de ter flagrado a cena gay e lésbica de Berlim de sua época. Próximo ao final do videoclipe, há uma referência a foto The Mainbocher Corset, de Horst, datada de 1939. Diferentemente dos quadros de Tamara de Lempicka, que aparecem na abertura do videoclipe, a foto ganha movimento através da performance de Madonna. Voguefoi um videoclipe essencial para o sucesso da canção. Os bailarinos também participaram da turnê Blond Ambition e a sua agenda para adentrar de maneira incendiária pelos anos 1990 estava organizada. Desta maneira, Vogue marcou muitas coisas na vida da artista. Em pleno auge da AIDS, o envolvimento da cantora com a causa, bem como o acolhimento deste público em suas turnês foram os fatores que possibilitaram a relação direta que as pessoas fazem até hoje com o público homossexual. Foi o videoclipe onde Madonna testou o seu poder e estava mais popular do que nunca. Para somar, ganhou ainda mais força com a apresentação na MTV, com Madonna vestida de Maria Antonieta, numa paródia da corte francesa, com insinuações sexuais, cenários teatrais, figurinos cuidadosamente elaborados e coreografia bastante estilizada. Algo “bem” Hollywood”.


Jogos de Ilusões: Uma Análise de Hollywood


Hollywood é uma das canções que compõem o álbum American Life, lançado por Madonna em 2003. Composta por Mirwais Ahmadzai, a letra da canção, cheia de contradições, explora o lado crítico de Madonna, tônica de todo o álbum. Na canção, Hollywood, a Meca do cinema, diferente da ode ao glamour de Vogue, é a terra da desilusão e do engano, onde as pessoas podem ficar acríticas diante dos sonhos ornados pela superficialidade. De acordo com Madonna, em entrevista,Hollywood é uma canção metafórica, pois o local é um reduto de sonhos e de superficialidade. No ponto de vista da artista, Hollywood é o local onde é possível esquecer-se de quem você realmente é, sendo assim, abrindo espaço para se perder, ao ganhar uma visão turva do futuro, apresentar falhas na memória, e, concomitantemente, perder-se de maneira geral e deixar de lado coisas mais importantes para a vida. A letra deixa claro que Hollywood é o local para onde todos querem vir, curtir, sentir a atmosfera, mas os elementos atrativos podem tornar-se perigosos e impedir o discernimento de quem está mergulhado no poço de mágoas e falso glamour. Na abertura da canção, Madonna canta que as pessoas pensam em se dar bem em Hollywood, pois o local é atrativo, mas, ao mesmo tempo, deixa transparecer certo ar de insatisfação, pois, apesar do lado glamouroso, como esse lugar pode magoar alguém?


Nesse videoclipe, Madonna não faz nenhuma menção direta a um filme ou vanguarda, mas parodia a indústria cinematográfica hollywoodiana. Ao lado de Vogue, soa como uma antítese, um pensamento reformulado, afinal, nos anos 1990, ela fez a sua ode aos mitos hollywoodianos, pessoas lindas, bem-sucedidas e ícones da glória e do poder. Em Hollywood, ela mostra que esse status pode custar muito caro para as pessoas, geralmente solitárias e reféns do padrão hedônico de beleza, que pede cirurgias e exercícios físicos constantes. Para a concepção geral, Madonna se inspirou em fotografias, assim como fez em Vogue. Dessa vez, o artista escolhido foi o fotógrafo francês Guy Bourdin, falecido em 1991. Famoso por valorizar cores, formas e cenários, inspirou os personagens apresentados no videoclipe. Sua família, inclusive, processou Madonna por plagiar as fotos. A artista alegou que havia apenas se apropriado das imagens e criado algo novo. Desse modo, a paródia aos elementos hollywoodianos e a apropriação das fotografias de Bourdin abrem espaço para a metalinguagem no videoclipe. O trabalho do fotógrafo manteve-se bem ajustado aos propósitos de Madonna por ser uma produção acentuada no que tange aos aspectos excêntricos do glamour. Com Hollywood, Madonna conseguiu reforçar o caráter crítico que o seu álbum American Life havia adotado. Com a carreira já firme e com a maturidade que os filhos, os projetos e a vida lhe proporcionaram, em Hollywood, ela estava a repensar a ideia de glamour, brilho e luxo da mais famosa e influente indústria cinematográfica mundial.

Bônus!

 

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