A cantora Ariany Azevedo foi batizada por um apresentador local como a nova majestade do ritmo arrocha, trazendo uma nova dinâmica ao cenário musical baiano.
Não, caros leitores, não se trata de Game of Thrones (A Guerra dos Tronos) ou House of the Dragon (A Casa do Dragão), mas o cenário musical do arrocha na Bahia tem suas próprias intrigas e disputas por tronos. Aqui, já existiram duas rainhas, legítimas ou não, que ocuparam o trono como Rainha do Arrocha, cada uma com sua legião de fãs e histórias de rivalidade e sucessão. Assim como nas séries de fantasia, o mundo do arrocha também tem suas coroações, disputas de poder e legados a serem preservados.
Em um universo com duas rainhas, Nira dizia que essa história de realeza foi ideia de produtores quando ela começou sua carreira, mas sempre foi contra esse título de nobreza. Ela preferia ser chamada de "Nira Guerreira da Paz". Já Nara, em suas apresentações, enfatizava que nunca reivindicou o título, aceitando apenas o carinho da imprensa local, e preferia ser chamada simplesmente de "Nara Costa".
O primeiro show das duas rainhas do arrocha foi presenciado no Megashow do Retiro, na época sob a gestão do Ravengar. Nira fez a abertura da apresentação e Nara Costa tocou logo em seguida. Foi perceptível a divisão do público e o carinho pelas duas artistas. Quem é a verdadeira rainha? A rivalidade, pelo lado delas, ficava entre os fãs. O trono foi ocupado por Nira Guerreira e Nara Costa, artistas precursoras do ritmo que hoje inspiram novas gerações.
De repente, surge uma nova cantora que reivindica o título de nobreza no reino do arrocha. Nascida em Salvador e criada em Lauro de Freitas, Ariany Azevedo ganhou notoriedade como a nova Rainha do Arrocha. Sua trajetória começou na igreja, onde cantava desde a infância, e continuou de forma inesperada em um barzinho, onde pediu uma "canja" ao músico André Nascimento. André, que já trabalhou com grandes nomes do arrocha como Márcio Moreno, Nara Costa e o Grupo Arrocha (Pablo e Nelsinho Falcão), ficou impressionado com o talento de Ariany.
Em entrevista, Ariany revelou que André, impressionado com seu talento, começou a aplicar o mesmo método que utilizava com Nara Costa. Ele levou todo o seu projeto, que incluía influências de MPB e músicas internacionais, para o universo do arrocha.
"André trouxe para o arrocha a sofisticação e o estilo que eu queria, misturando minhas influências internacionais com o ritmo local", contou Ariany.
Pablo, considerado o rei do arrocha, completou recentemente duas décadas de carreira e é reconhecido como o inventor do termo "arrocha". Inicialmente um bordão, a expressão ganhou notoriedade quando ele pedia aos casais para "arrocharem o nó" nos barzinhos de Candeias, durante sua época como vocalista da Banda Asas Livres. Pablo não demonstrou resistência ao novo reinado de Ariany Azevedo, ao contrário, a convidou para uma gravação em uma emissora local com a intenção de oficialmente batizá-la como a nova majestade do arrocha.
“De tanto o público e a mídia me chamarem de Rainha nos shows, eu resolvi abraçar esse carinho”, declarou Ariany Azevedo.
Vale lembrar que o reino também já foi ocupado por Márcio Moreno, que chegou a registrar a patente do título na época, gerando uma repercussão similar à batalha entre os empresários das artistas Nira Guerreira e Nara Costa. Nira, que registrou a patente meses antes de Nara, foi coroada por um veículo de comunicação local anos depois, após o reconhecimento oficial pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Márcio Moreno, que se converteu, comentou sobre sua mudança de trajetória: "Me batizei em junho de 2010, foi quando decidi parar de cantar. Larguei tudo para adorar ao Senhor Jesus." A conversão de Márcio teve um impacto significativo em sua carreira e na cena musical do arrocha. Muitos compararam a energia de Márcio com a de Heitor Costa, outra promessa do ritmo que tem se destacado como uma nova revelação no cenário atual.
“Eu comecei como a diva do arrocha, mas o apresentador Alex Lopes me convidou para gravar um programa e me chamou de Rainha do Arrocha”, disse Ariany.
Nara Costa, que começou sua carreira como vocalista da banda Didá do Pelourinho, hoje segue a religião evangélica e abandonou o arrocha em 2015 para viver uma vida dedicada a Cristo. Em entrevista a um jornal impresso, Nara afirmou que não tinha problema com Ariany sendo chamada de “rainha” e desejou sucesso para a nova artista. Por outro lado, um dos familiares da saudosa Nira Guerreira, que faleceu em 2018, destacou em suas redes sociais que existem outras cantoras com mais tempo de carreira e dedicação ao ritmo que também poderiam ocupar o trono.
Candidatas ao trono: as estrelas femininas do arrocha em ascensão
Klessinha, natural de Areia Branca (SE), começou a cantar aos 12 anos e possui um repertório impressionante com mais de 12 composições. Embora tenha experimentado ritmos como o forró, ela conquistou reconhecimento cantando seresta. Suas músicas, apesar de não utilizarem a nomenclatura "arrocha", refletem a influência da seresta, um ritmo precursor do arrocha.
Symone Morena, nascida em Itabaiana no dia 4 de agosto, iniciou sua jornada musical na igreja aos 3 anos e começou a cantar profissionalmente aos 13. Com uma carreira que inclui passagens por bandas como Raio da Silibrina e Banda Dose Dupla, Symone decidiu seguir carreira solo, solidificando seu espaço no arrocha.
Rosy Mattos, cantora e compositora baiana, começou sua trajetória aos 18 anos. Assim como Nara Costa, passou por bandas como Didá e Mulherada, e foi backing vocal de Silvanno Salles. Ela seguiu carreira solo no arrocha e também se apresenta em cruzeiros internacionais, ampliando sua visibilidade e alcance.
Raquel dos Teclados, natural de Paulo Afonso (BA), canta desde os 9 anos e suas canções estão entre as mais tocadas do segmento. Começou com ritmos nordestinos como seresta e forró, mas encontrou no arrocha a sua verdadeira expressão artística. Seu trabalho é conhecido por suas danças envolventes.
Kokoisa, uma figura influente na Ilha de Itaparica, começou sua carreira em Salvador e construiu uma sólida reputação na Ilha de Vera Cruz. Com uma carreira que abrange 32 anos, Kokoisa é conhecida por seu domínio de diversos ritmos musicais e sua habilidade em encantar o público com sua versatilidade.
Larissa Gomes, de Vitória da Conquista, é famosa por seu carisma e pela qualidade das suas músicas. Em cena, ela se destaca com uma presença vibrante e conquista o público com uma performance que combina emoção e técnica, transformando cada show em uma experiência inesquecível.
Anna Catarina, natural de Aratuípe, iniciou sua carreira musical aos 4 anos e atraiu atenção aos 16, quando seus vídeos nas redes sociais começaram a ganhar destaque. Seu primeiro show aconteceu em Camaçari, e desde então, ela tem se afirmado como uma estrela em ascensão no cenário do arrocha, conquistando cada vez mais fãs com seu talento promissor.
Cada uma dessas artistas tem contribuído de maneira significativa para o cenário do arrocha, mantendo o ritmo vivo e enriquecendo o gênero. Mas, no fim das contas, quem realmente merece o título de Rainha do Arrocha? A resposta pode variar conforme o olhar de cada fã e especialista do gênero.
Sobre o arrocha
O arrocha é um gênero musical e uma dança brasileira originária de Candeias, na Bahia. Surgido no Recôncavo Baiano, o arrocha rapidamente se espalhou pelo país, conquistando popularidade em diversas regiões. Caracterizado por seu ritmo envolvente e letras românticas, o arrocha reflete as desilusões amorosas e a vida cotidiana dos seus ouvintes. Apesar de suas origens, o arrocha conseguiu romper barreiras e ganhar visibilidade nacional. A popularização do gênero foi impulsionada por comunicadores como Naldão Animal e Christovão Lira, além de apresentações em programas de grande audiência, como o Domingão do Faustão, Fantástico e Domingo Legal (Gugu), que ajudaram a expandir seu alcance.
Embora o arrocha não tenha contado com o mesmo apoio das plataformas digitais que outros gêneros musicais, sua ascensão ocorreu principalmente através das rádios, shows e showmícios – eventos onde as prefeituras incluíam na programação aquilo que o público pedia. Esse cenário ajudou o arrocha a se consolidar, especialmente na região metropolitana de Salvador, onde alguns artistas tiveram a sorte de ver seus trabalhos se espalharem por meio de taxistas e caminhoneiros.
O sucesso do arrocha levou à criação de versões e variações genéricas por outros gêneros, tentando captar a essência do ritmo baiano. Isso causou certo incômodo entre os artistas dedicados ao arrocha, que lutaram para preservar a autenticidade e originalidade do gênero.
Os pioneiros do arrocha incluem nomes como Pablo, Jailton Barbosa (Asas Livres), Nara Costa, Nelsinho Falção, Nira Guerreira, Ademir Marques, Latitude 10, Dan Ventura (Novo Ton), Alan Delon, Trio da Huanna, Márcio Moreno, Tayrone Cigano e Beto Botho. Esses artistas desempenharam papéis cruciais no desenvolvimento e popularização do arrocha, moldando o som e a cultura desse ritmo característico da Bahia.
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