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Papo Rápido: Descubra a versatilidade do Manifesto como Gênero Textual

Papo Rápido da semana com o Professor Leonardo Campos desbrava as múltiplas facetas do Manifesto

Professor Leonardo Campos, apesar do texto dissertativo-argumentativo ser o principal foco das aulas de produção textual no âmbito estudantil, você também investe em outras modalidades, como o manifesto. Qual são as peculiaridades deste gênero textual?


É porque os textos dissertativos argumentativos são comuns aos processos seletivos e avaliativos. Por isso há um foco maior. No entanto, ao trabalhar o manifesto em sala de aula, os professores podem desenvolver habilidades e competências para o a produção textual em diversos formatos. Por definição, o manifesto é um gênero textual dissertativo de cunho político, cultural ou social, tendo em vista expressar o ponto de vista de um ou mais autores. A ideia central é sensibilizar, buscar o convencimento. Em linhas gerais, a sua estrutura se divide em título, corpo textual e assinatura. Deve ter uma linguagem adequada ao público leitor, de entendimento, sem ser cifrado. Com a acessibilidade, as ideias se multiplicam e podem atingir os objetivos do autor. Seu intuito é persuadir a opinião pública, por meio da sensibilização, atraindo leitores que comunguem das mesmas ideias ou que simpatizem de alguma maneira com a causa destacada. Há diversos tipos de assuntos para abordagem em um manifesto, gênero textual com bastante flexibilidade temática e estrutural.


Como o seu foco é Literatura e Cultura, para este projeto você escolheu o Manifesto Regionalista, de 1926, assinado pelo sociólogo Gilberto Freyre. Explica para os nossos leitores um pouco sobre este documento?


Há diversos manifestos de temas distintos que podem ser trabalhados pelos professores de segmentos distintos. No caso de Manifesto Regionalista, o sociólogo Gilberto Freyre, auto de clássicos como Casa-Grande e Senzala, “reclama” sobre a necessidade de ampliar as dimensões sobre a compreensão da cultura brasileira, dando destaque para o que se produz no território nordestino, numa época em que muito se voltava os olhares para os desdobramentos da Semana de Arte Moderna de 1922 pelos paulistas. É um texto contemporâneo ao Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924), Manifesto Antropófago (1928) e Manifesto Verde-Amarelo (1929). Gilberto Freyre recebeu a atribuição na autoria, mas o seu conteúdo reflete ideais do grupo de intelectuais que gravitava em torno do sociólogo na época. Em sua afirmação sobre a necessidade de valorização da cultura regional, o manifesto amplia o nosso entendimento acerca da produção literária de grandes nomes do Romance de 30, a dita fase de consolidação do Modernismo Brasileiro, proeminente nos gêneros literários poesia e no romance. Nas aulas de Ensino Médio este é o meu ponto de partida. Dele, nós seguimos por rumos múltiplos de leitura e escrita.

 


O manifesto é muito utilizado por marcas e campanhas também.


Sim, são os manifestos que utilizam vozes coletivas para tratar de questões de interesse geral. E tratam de questões tangenciais com a abordagem literária, mas funcionam bem quando conectamos com a produção textual na sala de aula. Os estudantes se empolgam bastante. Em linhas gerais, o manifesto de uma marca é uma declaração de cunho público que tem por intenção e motivação, demonstrar os ideais de um negócio. É uma representação verbal que apresenta ao público a “essência” de uma marca, seus propósitos e visões de mundo, uma estratégia de expressão das crenças e valores internos e externos, tendo em vista inspirar ações e atitudes. É um recurso publicitário no contemporâneo, fundamental para o posicionamento de uma marca, um meio de se conectar com os seus consumidores. Em minhas aulas, geralmente solicito que os estudantes criem um manifesto sobre uma marca hipotética, relacionando com tópicos temáticos de Literatura e Cultura. Já propus também o Manifesto de Tieta, o de Gabriela, de Dona Flor, do de Jubiabá, dentre outros. Todos eles trataram de questões abordadas nos romances, tais como o combate ao mundo misógino, os princípios da liberdade feminina, meios de debater e enfrentar o racismo estrutural, recreativo, etc. Depende muito também da criatividade e empenho do professor na criação da proposta. É preciso adaptar ao contexto onde leciona. Uma proposta recente que veio dos estudantes, em face dos constantes estereótipos sobre nordestinos no Big Brother Brasil, nos resultados das eleições presidenciais, do sucesso de redações bem avaliadas no ENEM e nos meios de comunicação foi a elaboração, na aula de Produção Textual, do Manifesto Ser Nordestino. Os resultados foram incríveis.


Quem estuda contigo sabe que a teoria é importante, mas a prática é uma estratégia de consolidação do conhecimento. Como você aplica o manifesto em seus processos avaliativos?


Respondi parcialmente a esta pergunta na anterior, mas é sempre bom detalhar. O manifesto em aula é um ótimo recurso para produção textual. O primeiro passo, ao inserir o manifesto na aula, é a leitura e compreensão de sua estrutura. Depois, debatemos uma linha temática para produção coletiva dos estudantes. Entre a aula expositiva e as orientações de produção, geralmente delineio para os envolvidos os mecanismos para antes, durante e depois de sua escrita. Revisar é uma das etapas essenciais, assim como o rascunho, etapas muitas vezes ignoradas por pessoas que escrevem. A revisão é para evitar que as ideias sejam prejudicadas por causa da falta de coesão, coerência e outras coisas estruturais do tipo. O rascunho, importantíssimo, é para o ajuste laboratorial das ideias, é a organização daquilo que vai compor a versão final do texto. Busco sempre temas considerados atuais e relevantes, conectados com algum tópico debatido em Literatura e Cultura, promovendo assim uma proposta que visa refletir sobre questões filosóficas e sociais, permitindo que os estudantes pesquisem, selecionem, exponham e hierarquizem informações. A demonstração de autoridade sobre aquilo que se fala, as estratégias argumentativas, bem como a estruturação e a organização do texto permitem que o senso crítico do autor seja aguçado, num diálogo com outras tipologias e gêneros textuais. 

 

 

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